A preguiça toma conta, e a consciência do dever ou da obrigação, diante de um prazo a se cumprir, pouco importa nesse momento. Um misto de ansiedade, angústia e sonolência: eis a sintomatologia do quadro. Ansiedade do que se espera que chegue, angústia do que não se faz para que se realize, e o sono da inércia. Trivalente, e acredite se quiser: prazeroso
Resumidamente, o gozo na psicanálise não é apenas o que é da ordem do prazer e da satisfação do dia. O gozo – no neurótico –, esbarra no limite dado por um Outro com o maiúsculo, não sendo o outro da proximidade física, mas o Outro que aponta para a alteridade, a cultura, a civilização e a lei, e tudo aquilo que precede a existência do ser-no-mundo. Portando o gozo é sempre algo interrompido, barrado, sempre o gozo do Outro. E isto não é ruim, por mais que pareça, pois em psicanálise o gozo em seu estado primitivo animalesco e incivilizado, é mortífero, e não aceita objetos de satisfação parcial, é portando o gozo de Tânatos – o gozo da pulsão de morte.
Podemos conjecturar que o gozo da procrastinação estaria presente justamente no ato de realizar o que se precisa fazer em uma experiência limítrofe do gozo. Em outras palavras, faltando 5 minutos para o final do segundo tempo. É como se na fantasia inconsciente, ao ludibriar as interdições de um prazo entrega, numa ordem de um deves fazer agora, algo que demandaria um roteiro planejado num tempo livre e disponível para se realizar o que tem a se fazer, se lançasse na experiência primitiva de um gozo todo. Ou seja, procrastino e não me submeto à ordem do Outro, no caso, o Outro que me dita o prazo, no contexto da responsabilidade da entrega dentro deste prazo.
O fato é que no final das contas, mesmo correndo o risco da morte, que nesse caso é a imagem do tempo avançando vorazmente – sinalizado sempre a condição de menos um dia –, na direção dos procrastinadores, o prazer de gozar com a tarefa cumprida nos últimos segundos possíveis de sua realização é inconfundível.
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