Às vezes parece que estamos parados no “carro da vida” e é a paisagem que se move. Outras vezes estamos tão rápido que nem vemos a paisagem mudar. Há crianças para quais o tempo não passa ou adultos tão ocupados que nem se dão conta de que o ano passou, ou pior, a vida passou.
Vidas em estado permanente de “falta de tempo” frequentemente produzem sentimento de extravio de si, esvaziamento e solidão. Contudo, vidas programadas, dietéticas e que cabem no próprio tempo vêm junto com a falta de intensidade, tédio e sentimento de irrelevância.
Freud descreveu duas atitudes opostas diante das exigências da vida: a fuga para a fantasia, baseada no recolhimento, no devaneio e da retirada de atenção do mundo, e a fuga para a realidade, baseada no controle, no planejamento e na exteriorização prática dos conflitos.
Essa sanfona psicológica sabidamente nos expõe a certos modos típicos de adoecimento envolvendo o corpo: exaustão, adoecimentos, dores, psoríase, doping farmacológico, alcoolismo. Todas essas práticas de sobrevivência, inerentes a hipótese depressiva, orientam-se para manter a produtividade, laboral ou relacional. O sofrimento se entranha de tal forma que ele não mais requer boas narrativas nem modulações de agressividade ou qualquer hesitação diante da ansiedade que nos protege da verdadeira angústia.
Essa forma padrão de sofrimento parece ter sido o melhor resultado que pudemos inventar diante de nossa equação entre o corpo, o mundo e nossas imperfeitas leis.
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